sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

E é assim que eu saio do circo

Artista
Faze um gesto
Que ficamos atentos
Um movimento maior
E a expectativa cresce
E de repente
Tudo que era palco, luzes, refletores - tudo
Se transforma em magia

Fazes embarcarmos na tua loucura
E te vemos voar se dás um salto
E te vemos mergulhar se estás caindo
E te vemos sorrir quando estás sofrendo
E te vemos falar ainda que com os lábios fechados

E, ainda que tanta maquiagem e adereços te cubram por inteiro,
Te vemos nu
Um corpo que dança,
E vira dança,
E vira música,
E vira cor,
E vira ave
E vira luz e pó
E vira água e fogo
E tem o poder de tornar água o fogo
E brincas com o fogo
És maior que o fogo

E de dentro de uma simples alma
Espalham-se sobre o picadeiro
E voam como borboletas
A loucura
E a razão
E o desejo
E a pureza
E o divino
E o profano
E o caos e a paz

Vemos um rosto
Mas não uma face
Vemos a expressão
E não o sentimento
O concreto da forma é a fôrma do abstrato

Escuta, criança
Estes aplausos
São teus estes aplausos
Vamos, agarra-os
Antes que se vão
E o silêncio e o vazio te preencham outra vez

Mas as palmas
São aves que não se pode engaiolar
E como as andorinhas e os sabiás e as rolinhas
Elas se vão

Então, por que, artista
Continuas nesta vida descabida
Se não tens concreta retribuição?
E passas horas calejando tuas mãos
E te feres em cada número que ensaias
E tornas tua angústia o riso alheio
E fazes questão de parecer - e ser
Aberração

Caíste! Quanta injustiça
Horas e mais horas de planejamento
E treino, na corda bamba, no trapézio e nas barras
Que por um simples passo em falso, um passo!
Não te deixam escapar de ir ao chão
Em vão, aberração, no chão

Que espírito maligno te dominas, artista?
Que encanto que vês em tudo isso!
És anjo, demônio, humano
Um ser de lucidez e insanidade
Borboleta que nunca foi lagarta
E, mais que tudo, uma criança a sonhar

Juliana Christina


Ok, ok, eu não dou muito pra poeta
Mas enfim, fui assistir hoje ao espetáculo "Alegria", do Cirque du Soleil (Meu Deus! Como chorei!!!) e não resisti: as palavras foram aparecendo durante o espetáculo, de modo que eu tive de passar pra um papel (Lê-se: única coisa que eu tinha: revista de palavras cruzadas), durante o intervalo e a volta.
Quanto ao espetáculo em si, MUITO BONITO
Babei, chorei, amei, aplaudi, gritei, enfim
Lindo, lindo
A história é linda e os palhaços são ótimos
Depois eu posto mais...