sexta-feira, 3 de setembro de 2010

domingo, 29 de agosto de 2010

Eles, mais uma vez

Artistas são as mais asquerosas criaturas residentes na superfície deste planeta.
E olha que nem me refiro a aqueles que jogam duas latas de tinta na tela e vendem por zilhões, ou os que têm um rostinho mais ou menos bonito, aprendem a brotar meia dúzia de lágrimas nos olhos e acham que isso é suficiente pra aparecer na televisão; esses são até toleráveis.
Não, não. Falo dos artistas de verdade, vermes que, enquanto podem, passam suas vidas medíocres se arrastando de um lado pro outro pra apresentar ao mundo suas habilidades - que são, de fato, verdade seja dita, excepcionais. São criaturas tolas, completamente apaixonadas por aquilo que fazem.
A arte pra maior parte deles deve ser algum tipo de alucinógeno, bebida, não sei - alguma coisa muito grave que causa séria dependência. Imergem-se na embriaguez e se mantêm nela, procurando sempre renovar as doses para manter a inércia do estado. Afinal, o viciado tem tendência a acreditar piamente que a droga está realmente lhe fazendo algum bem - mesmo que sua consciência saiba que não está.
Pode ser também que esse mal tenha caráter parasitório - uma vez no coração [ou corpo, ou mente, ou alma, que seja] do hospedeiro, consome-lhe os pensamentos, as forças, o amor, horas de sono, tudo o que for possível, em prol do desenvolvimento e aperfeiçoamento de técnicas, da busca do ideal, da busca do perfeito, da busca do mais puro.
Seja lá da maneira que for, a questão é: o artista faz daquele encargo sua vida - e quer viver daquilo, muito embora raramente consiga sobreviver com as poucas migalhas, merrecas, centavos que lhes sobram... Porque o povo é justo, e sabe que o lugar daqueles que acham que entreter os outros é realmente algo digno de reconhecimento é catando as migalhas que lhes são jogadas.
Mas nada disso importa ao artista de verdade. Ele se satisfaz com toda a maravilha que consegue produzir com seu próprio corpo, com a fusão deste com sua alma pura [pois artistas têm a tolice - ou pureza, como quiser chamar - de uma criança. Uma criança bem lúcida, contudo], e sobreviver vira apenas parte desse processo. São doentes, são empestiados por esse tal amor.

Muitos se curam, sim. A grande maioria leva um choque ao encarar a sociedade e perceber que suas telas, sua música, sua fala, sua expressão corporal não vão lhe deixar integrar-se ao sistema, ao modelo político, ao modelo econômico, principalmente. Conseguem se livrar da peste, e se encaixar nos padrões do ser humano normal, e exercer um ofício comum; outros, ainda, conseguem desenvolver suas mentes de forma a tirar proveito da maldição que lhes foi imposta, e convertem-na em bens materiais, enriquecendo em detrimento do verme que vai morrendo aos poucos dentro de si.
Assim, de certa forma, a maior parte dos contaminados se salva.

Alguns, todavia, continuam perseverando na loucura que acreditam ser a fonte de toda a verdade, da felicidade, do prazer... expõem-se ao ridículo e divertem as pessoas, a única forma de terem alguma função na sociedade.

Tenho nojo de todos eles.


Tenho ojeriza a todos eles.



Tenho horror a todos eles.






Tenho inveja de todos eles.

sábado, 28 de agosto de 2010

Para duas pessoas importantes

Poemas são feitos de versos
Versos são feitos de palavras
Palavras são feitas de letras
Letras são feitas de curvas
Curvas que, diferentemente daquelas dos gráficos, não seguem uma função.
Acho que se a gente parasse de seguir as mesmas funções de vez em quando, talvez a gente também fosse mais profundo e carregado de sentimento.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Cumulos Nimbus

Hoje, enquanto esperava a van para ir para casa, lá pras sete da noite, um menino vestindo a camisa do flamengo e escutando o mp3 dele (podia ser um mp4, um mp5, um radinho que fosse, mas eu resolvi achar que era um mp3, então é) começou a cantarolar atrás de mim. Ele cantava alto, escandaloso até, e eu, querendo desviar minha atenção daquela música que nunca tinha escutado na minha vida, resolvi ficar olhando as nuvens. O dia hoje está nublado aqui, chovendo de vez em quando. O vento, àquela hora, estava brincando de empurrar aquelas nuvens enormes e cinzas e gordas, gordas como tias velhas com cara de fada-madrinha -- a comparação me veio agora. Não chovia àquela hora.
Havia uma nuvem que se movia mais rápido que todas as outras, e tinha forma de golfinho. Lembrei do Bruno. O Bruno uma vez me disse que, quando ele estava no navio (ou barco, não sei. acho navio mais bonito), alguns golfinhos ficaram acompanhando o navio durante uma parte do percurso. Fiquei com um pouco de inveja dele.
Conforme o golfinho de nuvem ia passando, o que era pra ser o rabo dele foi tomando forma de uma cabeça de animal de boca aberta. Um animal não, um pokémon. É, parecia muito mais um daqueles monstrinhos de desenho animado. Pois bem, o pokémon foi fechando a bocarra aos pouquinhos, e fazendo biquinho, como se estivesse cantando. Nesse ponto, o que estava cantando já era um dragão, que aos poucos foi virando a boca de um leão de perfil. Lembrei do Bruno de novo, ele é do signo de leão. A gente é muito mais boba quando tá apaixonada.
O menino atrás de mim continuava cantando. Tinha mais gente na fila, atrás dele, mas o que me pareceu foi que somente eu me incomodava com aquilo -- talvez porque só eu não fizesse ideia de que músicas eram aquelas, ou talvez eu fosse a única da fila que não era flamenguista, quem sabe? A questão era que ele continuava cantando, então eu voltei a olhar pro céu.
O vento já tinha escondido o golfinho-pokémon-dragão-leão atrás da árvore, então eu resolvi procurar outra forma legal. Como não achei, comecei a lembrar de como eu gostava de brincar de avaliar as formas das nuvens quando eu era menorzinha -- eu e uma amiga pássavamos horas imaginando que aquilo eram as paisagens do céu, com direito a terra, mar, árvores e tudo mais; a gente chamava a brincadeira de "caminho das nuvens", porque, quando a gente é criança, a gente pode dar nome às coisas sem que pareça ridículo.
Comecei também a cogitar a possibilidade de não acreditar mais que as nuvens são apenas gotículas de água em suspensão em uma região de ar absurdamente rarefeito. É muito mais poético -- e feliz -- fazer que nem criança, e acreditar que elas são feitas de matéria fofinha e modelável, com a qual dá pra se brincar quando se vira anjinho, ou fadinha...
Eis que o menino cantor me cutucou; a chegada da van acabava de interromper e cessar meus devaneios.

sábado, 14 de novembro de 2009

Intertextualidade





"Após a consulta, o doutor Epaminondas abanou a cabeça:
-- Não há nada a fazer, Dona Coló. Esse menino é mesmo um caso de poesia"
A incapacidade de ser verdadeiro, de Carlos Drummond de Andrade

Retalhos

Fogo de atualizar blog agora; duvido que dure muito.
Mas, aproveitando a empolgação, vou postar meu último desenho, que comecei ontem na aula de cálculo (hehe), fiz uns pedaços à tarde e fui terminar no início da última madrugada:
É, desenho simples, sem motivação sentimental ou filosófica; só deu na telha e pronto.
Mas eu adoraria saber a interpretação de vocês, hahaha.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Faculdade - breve postagem

Ainda não falei sobre a UFRJ aqui -- e nem poderia, já que posto com a mesma freqüência com que Halley passa pela Terra.
Faculdade é um negócio estranho. Surreal, eu diria. Hoje, por exemplo, eu perdi quase metade da aula de cálculo entretida com uma simulação de ação dos bombeiros, com direito a carro do corpo de bombeiros, ambulância e trilha sonora de Missão Impossível ao fundo, hahaha.
Apresentações aleatórias à parte, é surreal também a diferença entre prédios vizinhos quando estes são de diferentes áreas; a rua que separa o Centro de Tecnologia da Faculdade de Letras, por exemplo, é a fronteira entre dois mundos completamente distintos, como costumo dizer; enquanto um lado vive a situação de uma França pré-revolucionária, com direito a voto qualitário de verdade (hahaha), com alunos sempre envolvidos em questões políticas, passeatas, protestos e outras "n" formas de se militar, o outro só se preocupa mais com política quando é época de eleições para DAs e CAs (não que os futuros engenheiros, matemáticos, físicos e químicos da UFRJ sejam politicamente alienados, mas nós normalmente estamos mais envolvidos com coisas tipo cálculo, física...); isso sem contar o modo de cada esfera se vestir, se portar, os hábitos... e por aí vai.
É claro, no entanto, que essas diferenças não formam cápsulas hermeticamente fechadas ao redor de cada prédio, e não é nada incomum a amizade entre alunos de áreas completamente distintas.
Aliás, de falta de amizade não posso me queixar no mundo mágico do Fundão. Ok que de popular eu não tenho nada, e não conheço a maior parte das pessoas que todo mundo conhece, mas o pequeno grupo de amigos que estou fazendo por lá é mais que suficiente pra alegrar meus dias recheados de derivadas de ordem superior, vetores, carbonos e soluções-tampão. É a mania de cantarolar da Flores, são as dorgas do Arthur, são os ataques de abraço do Diego, são as agressões físicas e morais do Gustavo, é a divisão das práticas de analexp com o Vitor, são as piadinhas internas com a Rayssa, o Danilo, o Bruno, o Renan e quem mais estudou comigo no Colégio Militar, é a saudade da Flávia, a filhadamãe que foi pra Harvard, são as "aulas" de comunismo do Gabriel, é isso que colore meus dias de universitária.
Para concluir o post, umas imagens ilustrativas:
Centro de Tecnologia: é aqui que passo 99,9% do tempo na faculdade; de vez em quando dou uma passadinha no CCMN pra assistir aulas de cálculo (lê-se: ficar desenhando após uma breve tentativa de entender o que diabos o professor está escrevendo no quadro), ou na Letras pra ver umas pessoas.


Pseudo-panorâmica da Ilha do Fundão vista do sétimo andar do bloco A do CT



Solução de cobalto! Foto tirada especialmente pra Flávia <3 que nem ama tudo que é rosa...