Artistas são as mais asquerosas criaturas residentes na superfície deste planeta.
E olha que nem me refiro a aqueles que jogam duas latas de tinta na tela e vendem por zilhões, ou os que têm um rostinho mais ou menos bonito, aprendem a brotar meia dúzia de lágrimas nos olhos e acham que isso é suficiente pra aparecer na televisão; esses são até toleráveis.
Não, não. Falo dos artistas de verdade, vermes que, enquanto podem, passam suas vidas medíocres se arrastando de um lado pro outro pra apresentar ao mundo suas habilidades - que são, de fato, verdade seja dita, excepcionais. São criaturas tolas, completamente apaixonadas por aquilo que fazem.
A arte pra maior parte deles deve ser algum tipo de alucinógeno, bebida, não sei - alguma coisa muito grave que causa séria dependência. Imergem-se na embriaguez e se mantêm nela, procurando sempre renovar as doses para manter a inércia do estado. Afinal, o viciado tem tendência a acreditar piamente que a droga está realmente lhe fazendo algum bem - mesmo que sua consciência saiba que não está.
Pode ser também que esse mal tenha caráter parasitório - uma vez no coração [ou corpo, ou mente, ou alma, que seja] do hospedeiro, consome-lhe os pensamentos, as forças, o amor, horas de sono, tudo o que for possível, em prol do desenvolvimento e aperfeiçoamento de técnicas, da busca do ideal, da busca do perfeito, da busca do mais puro.
Seja lá da maneira que for, a questão é: o artista faz daquele encargo sua vida - e quer viver daquilo, muito embora raramente consiga sobreviver com as poucas migalhas, merrecas, centavos que lhes sobram... Porque o povo é justo, e sabe que o lugar daqueles que acham que entreter os outros é realmente algo digno de reconhecimento é catando as migalhas que lhes são jogadas.
Mas nada disso importa ao artista de verdade. Ele se satisfaz com toda a maravilha que consegue produzir com seu próprio corpo, com a fusão deste com sua alma pura [pois artistas têm a tolice - ou pureza, como quiser chamar - de uma criança. Uma criança bem lúcida, contudo], e sobreviver vira apenas parte desse processo. São doentes, são empestiados por esse tal amor.
Muitos se curam, sim. A grande maioria leva um choque ao encarar a sociedade e perceber que suas telas, sua música, sua fala, sua expressão corporal não vão lhe deixar integrar-se ao sistema, ao modelo político, ao modelo econômico, principalmente. Conseguem se livrar da peste, e se encaixar nos padrões do ser humano normal, e exercer um ofício comum; outros, ainda, conseguem desenvolver suas mentes de forma a tirar proveito da maldição que lhes foi imposta, e convertem-na em bens materiais, enriquecendo em detrimento do verme que vai morrendo aos poucos dentro de si.
Assim, de certa forma, a maior parte dos contaminados se salva.
Alguns, todavia, continuam perseverando na loucura que acreditam ser a fonte de toda a verdade, da felicidade, do prazer... expõem-se ao ridículo e divertem as pessoas, a única forma de terem alguma função na sociedade.
Tenho nojo de todos eles.
Tenho ojeriza a todos eles.
Tenho horror a todos eles.
Tenho inveja de todos eles.