Hoje, enquanto esperava a van para ir para casa, lá pras sete da noite, um menino vestindo a camisa do flamengo e escutando o mp3 dele (podia ser um mp4, um mp5, um radinho que fosse, mas eu resolvi achar que era um mp3, então é) começou a cantarolar atrás de mim. Ele cantava alto, escandaloso até, e eu, querendo desviar minha atenção daquela música que nunca tinha escutado na minha vida, resolvi ficar olhando as nuvens. O dia hoje está nublado aqui, chovendo de vez em quando. O vento, àquela hora, estava brincando de empurrar aquelas nuvens enormes e cinzas e gordas, gordas como tias velhas com cara de fada-madrinha -- a comparação me veio agora. Não chovia àquela hora.
Havia uma nuvem que se movia mais rápido que todas as outras, e tinha forma de golfinho. Lembrei do Bruno. O Bruno uma vez me disse que, quando ele estava no navio (ou barco, não sei. acho navio mais bonito), alguns golfinhos ficaram acompanhando o navio durante uma parte do percurso. Fiquei com um pouco de inveja dele.
Conforme o golfinho de nuvem ia passando, o que era pra ser o rabo dele foi tomando forma de uma cabeça de animal de boca aberta. Um animal não, um pokémon. É, parecia muito mais um daqueles monstrinhos de desenho animado. Pois bem, o pokémon foi fechando a bocarra aos pouquinhos, e fazendo biquinho, como se estivesse cantando. Nesse ponto, o que estava cantando já era um dragão, que aos poucos foi virando a boca de um leão de perfil. Lembrei do Bruno de novo, ele é do signo de leão. A gente é muito mais boba quando tá apaixonada.
O menino atrás de mim continuava cantando. Tinha mais gente na fila, atrás dele, mas o que me pareceu foi que somente eu me incomodava com aquilo -- talvez porque só eu não fizesse ideia de que músicas eram aquelas, ou talvez eu fosse a única da fila que não era flamenguista, quem sabe? A questão era que ele continuava cantando, então eu voltei a olhar pro céu.
O vento já tinha escondido o golfinho-pokémon-dragão-leão atrás da árvore, então eu resolvi procurar outra forma legal. Como não achei, comecei a lembrar de como eu gostava de brincar de avaliar as formas das nuvens quando eu era menorzinha -- eu e uma amiga pássavamos horas imaginando que aquilo eram as paisagens do céu, com direito a terra, mar, árvores e tudo mais; a gente chamava a brincadeira de "caminho das nuvens", porque, quando a gente é criança, a gente pode dar nome às coisas sem que pareça ridículo.
Comecei também a cogitar a possibilidade de não acreditar mais que as nuvens são apenas gotículas de água em suspensão em uma região de ar absurdamente rarefeito. É muito mais poético -- e feliz -- fazer que nem criança, e acreditar que elas são feitas de matéria fofinha e modelável, com a qual dá pra se brincar quando se vira anjinho, ou fadinha...
Eis que o menino cantor me cutucou; a chegada da van acabava de interromper e cessar meus devaneios.
Há 14 anos
Um comentário:
As nuvens pra mim são modeláveis e fofinhas, não importa o que a ciência diga, ela jamais falará mais alto que o meu coração =)
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